Não
sou funcionário de políticos, não trabalho para partidos
políticos, não acredito em Papai Noel, nem acredito numa realidade
dividida entre heróis e bandidos... Logo, politicagem personalística
(pró ou anti) não funciona para mim. Estou pouco me lixando para os
adjetivos que usam para qualificar aos dois grupos ou candidatos à
Presidência; logo, se você é um “dilmista”, continuarei a ser
seu amigo, e se for um “aecista”, ao menos devemos concordar em
algumas de nossas críticas ao status quo.
Essa
politicagem personalística estava bem presente nas campanhas no
primeiro turno – sejam as partidárias, sejam aquelas realizadas
pelos militantes partidários; as campanhas pareciam estar
sobrecarregadas desse tipo de retórica. Além disso, a incoerência
politiqueira é tão incrível que chega a ser intolerável.
Lembrei-me,
hoje, de algumas das pérolas das campanhas dos “governistas”
nestas eleições, e eis um rascunho de brevíssimos comentários a
algumas delas:
1)
“...O PSDB QUEBROU O PAÍS TRÊS VEZES!”… OU:
“...ACABARÃO COM OS PROGRAMAS SOCIAIS!”... OU: “FHC FEZ
COM QUE O BRASIL SE SUBMETESSE AO FMI!”... OU AINDA: A LADAINHA DA
PRIVATIZAÇÃO
Essa
é incrível. Deve entrar na história das argumentações
politiqueiras.
O
sucesso econômico desfrutado na última década pelo Brasil tem suas
raízes no esforço feito pelo Estado brasileiro, no decorrer da
administração do PSDB, para se alcançar o equilíbrio fiscal,
cambial e monetário. Notem que escrevo “tem suas raízes”,
com o que quero reconhecer que houve avanços, mas esses não
emergiram ex nihilo,
não são invenção dos governos de Lula ou de Dilma, como
se vende
na campanha à reeleição da Presidente
– tiveram uma origem nas ações às quais o PT se opôs lá na
década de 1990, mas
que foram, felizmente,
mantidas quando Lula assumiu o poder (ou
seja, é um mérito do esforço de todos eles combinados, FHC, Lula e
Dilma).
É
muito fácil, agora, apontar o Plano Real como sendo o responsável
por prejuízos econômicos e sociais – com a brilhante acusação
eleitoreira da presidente de que o PSDB “quebrou o país três
vezes” –, ao mesmo tempo em que se esquece que foi aquele plano
que conseguiu resolver, naquele contexto, um dos maiores desafios
para o crescimento econômico e social do Brasil de então: inflação
de mais de 700% anuais até 1994, e a precariedade institucional que,
além dos resquícios das políticas anteriores, impediam a
modernização da economia nacional. Apesar das limitações, a
administração de FHC teve razoável sucesso ao atravessar as crises
econômicas internacionais que acometeram a economia brasileira ao
longo de seu governo – é uma questão de analisar os dados,
considerando os contextos políticos e econômicos nacionais e
internacionais de então, em vez de se prender a disputas eleitorais.
Durante
a crise econômica de 1998, o Brasil recorreu ao FMI para conseguir
um empréstimo – o que alcançou graças à pressão dos Estados
Unidos para que o órgão o concedesse. A instabilidade da situação
internacional exigia esse empréstimo. O México e a Rússia haviam
quebrado, e ninguém queria que o mesmo ocorresse com o Brasil. O
mesmo ocorreu em 2002, após pesquisas eleitorais indicarem uma
possível vitória de Lula nas eleições presidenciais e o mercado
indicar um clima de insegurança com as expectativas dum governo do
PT; para evitar um ataque especulativo durante as eleições, o
governo de FHC negociou um acordo de 30 bilhões de dólares com o
FMI – FHC ficou infame por assinar um acordo de empréstimo, quando
Lula foi quem colheu as benesses políticas que vieram em
consequência do mesmo! O governo que deixava foi corajoso o
suficiente para evitar uma catástrofe econômica – que teria sido
causada pela impressão que se tinha internacionalmente do
recém-eleito –, negociando um acordo com a aprovação do eleito,
e hoje é acusado como se aquele acordo tivesse prejudicado o
país!... Parece-me uma piada de muito mau gosto!
Quando os militantes governistas falam nos gastos sociais nos governos de Fernando Henrique Cardoso, como se esses tivessem sido inexistentes, não levam em consideração o status das contas públicas, e não apresentam dados comparativos – em seu universo mental, repetem o mantra de que apenas o PT tenha tido gastos sociais. Então, deixem-me apresentar informações aqui. Os dados abaixo correspondem à porcentagem do PIB relativo ao Gasto Social Federal, entre 1980 e 2010 (dados do SIAFI e IPEA):
1980
– 9,3%
1985
– 10,3%
1990
– 11,8%
1994
– 11,8%
1995
– 12,2%
1996
– 12,3%
1997
– 11,5%
1998
– 12,3%
1997
– 11,5%
1998
– 12,3%
1999
– 12,2%
2000
– 12,6%
2001
– 13,0%
2002
– 12,9%
2003
– 13,0%
2004
– 13,2%
2005
– 13,8%
2006
– 13,8%
2007
– 14,2%
2008
– 14,2%
2009
– 15,5%
2010
– 15,5%
Há,
obviamente, um investimento comparativamente maior nas despesas
sociais do Governo Federal com gastos sociais durante os dois
primeiros mandatos do PT – nos dados acima se estendendo até o fim
do segundo mandato do governo de Lula. Entretanto, é sempre bom
lembrar que os números não falam por si sós – eles precisam ser
analisados com base num contexto mais amplo dos cenários políticos
e econômicos nacional e internacional. Considerando esses cenários,
veremos que há um certo nível de estabilidade do volume de
investimentos sociais dos governos brasileiros, em comparação ao
PIB, ao longo das três últimas décadas. Logo, as desqualificações
eleitoreiras não fazem sentido para ninguém que tenha a capacidade
de analisar dados comparativamente e contextualizá-los
historicamente.
Quanto às privatizações, não é sequer necessário comentar: pode realmente o PT acusar qualquer outro partido, ou pode a Presidente fazê-lo, de ser "privatizador"?... Quem o faz deve ter vivido muito longe do Brasil e não ter lido nenhuma notícia sobre a economia do país na última década!
Quanto às privatizações, não é sequer necessário comentar: pode realmente o PT acusar qualquer outro partido, ou pode a Presidente fazê-lo, de ser "privatizador"?... Quem o faz deve ter vivido muito longe do Brasil e não ter lido nenhuma notícia sobre a economia do país na última década!
2)
O PSDB E O FUNCIONALISMO PÚBLICO
Chega
a ser ridículo um militante partidário atacar qualquer partido ou
governo com base em suas relações com os funcionários públicos
(não apenas, mas especialmente os federais). As últimas e
recorrentes greves de diferentes grupos de servidores federais
ocorreram sob o governo de qual partido mesmo?... Ah, é, o PT, e o
governo de Dilma Rousseff!... Logo, aperfeiçoem seus argumentos.
Utilizar chavões vazios como “arrocho salarial” não diz
absolutamente nada numa argumentação política qualitativa.
Como
não acredito em conto de fadas, ao menos para mim, nunca haverá –
nesse formato de funcionalismo público levado a cabo no Brasil –
harmonia entre um governo democraticamente eleito, e
orçamentariamente responsável, e os diferentes grupos de
funcionários públicos. Assim, todos os candidatos a cargos de
qualquer nível do Poder Executivo deveriam – se quisessem manter
certa coerência entre sua retórica de campanha e a vida real –
abandonar esse tipo de acusação contra seus adversários (sejam do
PT, do PSDB, do PSB, do PMDB, do DEM ou de qualquer outro partido
político).
3)
AÉCIO NEVES E A COCAÍNA
Lembro-me
agora daquelas acusações infundadas contra o candidato Aécio
Neves, feitas nas redes sociais e repetidas por tantas pessoas de
alguns de meus círculos sociais, de que ele seria usuário de drogas
ilícitas.
A
incoerência retórica de algumas daquelas pessoas está no fato de
muitas delas vociferarem um apoio à descriminalização do uso e/ou
comércio dessas mesmas drogas, ao mesmo tempo em que dizem que
alguém não devesse ser eleito por supostamente ser ou haver sido
usuário de cocaína.
A
propósito, sou um daqueles que apesar de acreditar no direito à
vida privada do cidadão, também acredita em responsabilidade ética
e moralidade pública; logo, não votaria em ninguém que reconheça
– ou sobre quem se prove – estar cometendo ilicitudes enquanto
ocupe cargos eletivos, ou quando é candidato. Assim, não votaria
num(a) candidato(a) que se declarasse usuário de drogas ilícitas,
já que isso diria muito sobre seu compromisso ou não com o
cumprimento da lei – e isso, caros colegas, é coerente, já que
não sou um defensor do “libera tudo agora!”.
Mas,
como todo eleitor inteligente já deve ter notado, aquelas acusações
eram politicagem eleitoreira! O que o candidato reconheceu, como fez
a candidata Luciana Genro, foi ter
experimentado maconha quando tinha 18 anos, e nunca mais. Logo, a
acusação infundada – já que sem provas – é irrelevante e
deveria estar fora das campanhas, isso para não citar a incoerência
entre o que defendem seus divulgadores e seus argumentos (chega a ser
vexatório).
4)
“NÃO FIZERAM EM OITO ANOS, COMO FARÃO AGORA?”
Isso
é o que dizem sobre o PSDB no governo, mas há uma falha com esse
argumento. Afinal de contas, se o PT – que está no poder há 12
anos – não fez algumas das coisas que hoje promete em sua
campanha, como posso acreditar que o farão?
Então,
por favor, aperfeiçoem seus argumentos quando vierem me dizer ou
escrever sobre o “risco” que os brasileiros correm se elegerem
Aécio Neves à Presidência! Em vez de lendas, tragam ideias que
sejam relevantes para alguém como eu!
Gibson