Gibson
da Costa
Sempre
acho interessante as formas de xingamento político que alguns
utilizam comigo. Ao longo de minha vida profissional – seja como
sacerdote ou como professor – já utilizaram os adjetivos, para
mim, mais inexatos e insignificantes para me classificarem
pejorativamente:
A)
esquerdista, marxista, petista, “lulista” ou “dilmista”
– os termos usados por alguns brasileiros que se identificam como
“direita” (duas vezes enviei livros de presente para
ajudar essas pessoas a se informarem um pouco mais sobre teoria
política – desisti quando percebi que iria à falência se tivesse
de fazer isso sempre, e quando me dei conta de que a ignorância de
alguns é uma questão de escolha própria!);
B)
direitista, homofóbico, machista, golpista – termos
utilizados por alguns que se identificam como “esquerda”, no
Brasil, e que, honestamente, nunca levo a sério, já que (ao menos
os três últimos adjetivos) não parecem se personificar em nada que
eu me lembre de haver escrito ou dito até hoje!
A
inexatidão e insignificância às quais me referi inicialmente estão
explícitas nos termos “esquerdista” e “direitista”... Diz o
mito que, politicamente, são antônimos – ou seja, que seus
sentidos são opostos. Mas o engraçado é que, tão frequentemente,
conseguem me classificar como representante de ambas as (supostamente
existentes) [contra]posições.
O
que querem dizer, afinal de contas, quando usam o termo
“esquerdista”? Aparentemente, no jargão dos xingamentos
partidários brasileiros, ele seria sinônimo de “marxista”,
“lulista”, “dilmista” e “petista”,
mas eu não sou adepto das filosofias políticas marxistas; não sou
membro, ativista, simpatizante ou eleitor do Partido dos
Trabalhadores; e nunca fui eleitor ou simpatizante do ex-Presidente
Lula da Silva ou da, sim, Presidente Dilma Rousseff. Talvez, pode ser
que utilizem o termo para fazer uma referência aos ideários
comunista ou socialista. Mas, ainda assim, haveria um problema: não
sou, nem nunca fui, seguidor de nenhum daqueles conjuntos de
ideias!... Então, por gentileza, me expliquem o querem dizer quando
me atribuem o qualificativo de “esquerdista”
(especialmente quando o fazem de forma pejorativa)!
E o
que querem dizer aqueles que me classificam como “direitista”?
O termo, no jargão utilizado por alguns daqueles que se identificam
como partidários da “esquerda”, parece ser sinônimo de
“homofóbico”, “machista”, “golpista”,
“militarista”, de alguém a favor das armas e da pena
de morte, e de alguém que defenda as passadas ditaduras
brasileiras. Onde, quando e como eu defendi ou expus qualquer
dessas ideias?... Elas são, exatamente, algumas das coisas contra as
quais tenho me expressado publicamente há anos, por contradizerem
toda a minha compreensão teológica-filosófica-política.
A
dicotomia direita-esquerda, se ainda válida, é relativa. E é
justamente por isso que alguém que se julgue à “esquerda” pode
designar outro como estando à “direita”, ao mesmo tempo em que
um terceiro, que esteja à direita, julgaria aquele mesmo indivíduo
como representante da “esquerda”. Tudo depende de onde você se
encontra num espectro político contínuo!... De qualquer forma,
rejeito essa dicotomia simplesmente por não compreender o
“espectro” político como sendo um “contínuo”... Assim,
por gentileza, quando me atacarem, sejam mais criativos; ou, se
utilizarem o espectro contínuo, leiam mais, se informem mais antes
de se auto-ridicularizarem publicamente!
Minha
crença e defesa da liberdade é muito mais radical do que aquelas
frequentemente expostas por meus colegas da “direita” ou da
“esquerda”. Acredito na sacralidade da liberdade de opinião e de
exposição dessa opinião, mesmo que isso signifique que as crenças
que abomino serão divulgadas – assim, não me encaixaria nem na
“direita” nem na “esquerda” brasileiras. Acredito na
democracia, independentemente de seus resultados – nem a “direita”
nem a “esquerda” brasileiras estão dispostas a essa radicalidade
democrática. Absolutamente tudo, para mim, pode e deve ser
criticamente questionado – honestamente, não vejo essa disposição
nos dogmatismos classificados como “direita” ou “esquerda”.
Assim,
se querem saber onde me encaixo, eis minha resposta: quando escrevo e
como, sou um direitista – afinal, sou um destro, é com a mão
direita que seguro um garfo ou uma caneta; quando busco clareza no
meu raciocínio ou quando tento lembrar da sequência de certos
acontecimentos, sou um esquerdista – já que, afinal, é com o lado
esquerdo do cérebro que exercemos essas atividades. Assim, como se
vê, os adjetivos dependem da perspectiva!